quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Reges Schwaab

Sou e posso ser jornalista. Escrever me satisfaz. Eu tenho medo de escrever. Quando derrubo o medo, eu escrevo. Quando o medo... não.
Tive uma coleção de cadernos em branco.
Eu sei que as palavras estão todas escondidas embaixo do teclado. Acertando a combinação de letras, plum, aparece uma história.
Planejo um livro pronto antes dos 30. E isso vai ser em 2010. Por agora também tento ser bipolar. E gosto de gastar muitas horas.
Digo em blog pessoal (http://errudito.blogspot.com/). E tenho um blog da escrita do romance (ui!), esse ainda a usufruir de um parcial anonimato.

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Diz que fui por aí
(Publicado pela primeira vez pela editora Mojo Books)

E saiu. "Direi meu próprio norte". Foi, como na música. E rascunhou. Era para dizer "Fui...", no caso de perguntarem. E desapareceu. "Não dê satisfações sobre nós". Nunca amarrou. E parou. Na janela, o reflexo de uma fotografia do outro lado da vida. E mordeu. Não sentiria dor, não cairia em um botequim. E entrou na vida. "Era o dia". Sem saudade, só coceira no pé. "Não me atrasaria, não mentiria". E madrugou. "Escuridão companheira". E olhou. Um bar "Em cada esquina". E não dormiu. Nem precisava, sonharia sem sonhar. E devaneou.

E ia. E voltava. "Para a vida". Cansou de se perder. E abriu. No caderno anotou outra frase da canção. E riscou. Não era por aí. E sorriu "Rasgado". E rasgou. Ônibus seguindo. O motorista ouvindo rádio. E melodiou "...chegando ao fim". E findou. Jogou fora o caderno. Agora, sim, nada mesmo.

Outra manhã. E desceu. E fora já não carregava o acervo de suposições desfiadas e esfarrapadas. E coração. "Quem nunca amou?". Sobrou só o rabisco na camiseta: "Mereço ser amado". E foi voltar. E merecer. E passos. E sinceridade. Um copo d’água! Sem tempestade "Me semear no vento". Sem pecado. Manhã de nenhuma vaga, "Lembrança alguma". Contas do passado. E não pagou. Deu-se um presente. E futurou. Ninguém chora mais. "Por ninguém".

E andou com a graça que o amor lhe deu. Realidade em poesia. Enxugou o suor, parado em frente à casa. "Seja meu". Primeiro beijo. E aqueceu. "Todo o mundo". Ponteiros nortearam para sul e para cima. Segundo beijo. E ardeu. Portas abertas. "Que vejam". E. "Use só sinceridade agora". Nem chuva, nem sol. E suaram. Calor de calafrio. "Também te quero, com todo querer". Quinze minutos, mil voltas; "Você regressou". Na memória, no sonho "E não em vão". E a dois, com o terceiro já passado. Só dois. E a noite não tardou. E nasceu. "Coração...". "Sim". "Fica desta vez". Ninguém soube "Onde estava?".

E ficou.





* * *

Quando criança, pensava que podia passar o dia somente a respirar. “Respirar e comer”, emendava. “E no intervalo entre acordar e dormir”, acrescentava. Já mesmo se dava conta de que não era só respirar.

E passava o dia todo sem ar.




* * *

Na casa havia algumas pessoas. O Homem, que espiava pelas frestas das portas sem nunca ter dirigido ao menino uma só palavra. Um fiapo do olho a espreitar um raquítico transparente.

E também os Velhos.

Uma mulher vinha passados intervalos irregulares. Sua função era andar pela casa com uma vassoura. Depois de andar com a vassoura, a mulher ia aos fundos da casa. Para onde se dirigia o Homem.

Logo atrás.

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