domingo, 17 de janeiro de 2010

Gabriela Petersen

"Ex (eterna) menina nerd, cantora de jingles nas horas vagas, metida do ramo cinematográfico, apreciadora das idiossincrasias humanas e dos rudimentos da arte que se escondem nas pequenas coisinhas do cotidiano, ex psicanalista e aspirante a escritora encorajada pela generosa benevolência do Professor Lehgau."
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O banco, a praça e a velha

Todos os dias da vida são diferentes, mas a velha sabe como ajeitá-los no banco da praça, sempre iguais. Ela sempre volta lá. Sempre às tardes. Sempre só.

Os passantes compõem o cenário, que cada dia é um, mas é sempre praça. O banco da velha às vezes se surpreende, que com tantas coisas para fazer numa praça, as coisas que as pessoas fazem são sempre as mesmas coisas.

A moça de cor-de-rosa corre miúdo. O rapaz de barba descansa na sombra. O cachorro puxa o menino. A senhora da carrocinha conta as moedas do algodão-doce. A velha se ajeita no banco. A menina empurra o carrinho. O pai carrega a boneca. O velho caminha sem pressa. O moleque atira pedra no lago. A velha se ajeita no banco. O sol se ajeita no alto. O velho ajeita o chapéu. O coração da velha faz tum, tum. A moça corre outra volta. Tum, tum, tum. O velho faz sombra no banco. A velha se ajeita na sombra. Tum, tum, tum, tum, o velho senta no banco. E a velha não sabe mais nada.

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