quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Graciema da Rosa

“Graciema da Rosa é psicóloga e professora universitária no Unilasalle, em Canoas. Segundo nos diz, a experiência com a escrita é recente, ainda tímida, mas de extrema importância, tanto para sua vida pessoal, quanto para seu desenvolvimento profissional.”
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Rastros

Restos de festa, sobras de escrita, cansaço e exaustão. Cinzas e mal-estar intenso com urgência de sopros de vida. Cinzas do gozo da noite na vida de Eduardo. Falta de pouso e repouso para um ressurgimento vagaroso das peles de um teimoso qualquer. Pele de gente, meio bicho, arisco, fugidio, assustado, com muitos medos. Resto e rosto de animal que sobra, abandonado, entregue, único sobrevivente após a catástrofe. O que fazer com o pânico e a angústia, avassaladores, que o invadem?

Falta-lhe o ar, o chão e qualquer coisa viva que o possa ouvir e com quem conversar. Desolado às últimas, escuta um canto longínquo e forte de um pássaro. Talvez seja grande e bom de voar. Pensa num tapete mágico com asas e garras enormes que possam resguardá-lo de outras mortes. Eduardo descerra os olhos pesados e sente uma luz ofuscante sacudindo-o, acordando-o, ressurgindo, meio destroçado, retirado à força, mergulhado e escondido num oceano sem fim. O bicho-tapete-com-asas aterriza com soberba, apenas um disfarce, diante de seu desprezo e medo de estar com os pés na terra. O pássaro gigante move-se em direção a Eduardo, que salta, bruscamente, sobre as vigorosas asas, e, neste vôo sangrento, a par da fragilidade que o acompanha, sente seu peito inflar, seu corpo não mais de gente. Eduardo flutua, cada vez mais rápido, aprendendo o traquejo desta experiência, mais a imensidão e o horizonte inatingível.

Está salvo.

Aquele lugar distante continua sozinho, com rastros de um acontecimento, e segue à espera de outros andantes. Talvez de algum escritor qualquer, perdido em cinzas, querendo asas, após uma noite de festa.

Um comentário:

Gabi disse...

MINHA colega, esta.