segunda-feira, 29 de março de 2010

Fernanda Rosa

"Nome: Fernanda.

Sobrenome: da Rosa e Sousa.

Como me chamam: de Nanda.

Comida preferida: chocolate.

Maior Sonho: viver uma situação extrema e mostrar minhas habilidades de luta aprendidas nos filmes do Tarantino.

Maior medo: as habilidade de luta falharem.

O que mais você precisa saber: sou uma leonina de juba mansa com paciência de Jó, escrevo desde os tempos de guria no primeiro grau, com direito a uma parada de uns 10 anos para me tornar uma mulher de carreira. Marketeira em tempo integral, gostaria de ser escritora nas horas vagas. Tímida para falar e cara-de-pau para escrever, estou retomando o hábito aos pouquinhos. Agradeço aos anjos por não ter perdido o gosto e ao demônio, por não ter perdido o jeito (aparentemente). Adoro cinema, música, teatro, TV, internet, moda, design, propaganda, quadrinhos, ler, jogar futebol, torcer para o Colorado, torcer o tornozelo, tricotar, cozinhar, viajar, namorar o marido.

Acho um desperdício de tempo ter que trabalhar para ganhar dinheiro e consumir tudo. E depois se acabar com tudo que consumiu. Enfim, escrever é a minha terapia favorita e funciona mais que diazepam."
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Boneca Virgem

As bonecas ficam perfeitamente arrumadas. Parece que ninguém brinca com elas. Algumas ainda estão em caixas. Intocadas. Virgens de brincadeiras. Virgens de risos. Virgens de alegria.

Na sala de estar, enquanto os adultos comem, algumas crianças brincam. A dona das bonecas virgens pouco fala. Acabou de colocar aparelho nos dentes e apesar de ainda brincar de bonecas, não é mais criança, mas também não é mulher. É ela própria uma boneca virgem.

Um dos meninos inventa uma brincadeira nova: um jogo de cartas. A menina boneca e outro garoto não querem participar. Olham entediados o que acontece: ela fazendo cara de inteligente, superior àquela brincadeira tão tola. E ele a lhe analisar intensamente por um microscópio só seu que lhe permite ver mais de perto, como se olhasse amebas nas aulas de Ciências do colégio. Enxerga além das pretensões dela.

Quando seus olhos se cruzam sem saber bem por que, a menina abre as pernas. Está de shorts largos, por bobice queria estar usando a saia plissada do colégio.

A mãe aparece na sala e ela aproveita o tumulto para correr até o quarto. Abre uma das caixas e pega a boneca virgem. Esta usa uma mini-saia plissada rosa. Levanta a saia e tira a calcinha da boneca. É ridículo. A boneca não é como ela é. Nem como os garotos são. É inteira. Nada entra, nada sai. Larga a boneca sobre a cama e se olha nos espelhos sem sorrir. Os olhos pulsam e a boca cerrada é carne viva. Gira sobre o eixo e marcha determinada para a sala novamente.

Todos foram brincar no pátio e a mãe voltou para o jantar. Mas o garoto de olhos de lente de aumento ainda está juntando as cartas do baralho e as guarda lentamente, de propósito tão devagar, numa caixinha de madeira. Olham-se. Hipnotizam-se. E sem dizer nada, escondida atrás do sofá, a menina tira o shorts. O coração martela forte dentro do peito. O ar entra arranhando e não é suficiente para oxigenar a cabeça. Decidida, ela se inclina e tira a calcinha. Olham-se. As pupilas dele tomam conta de suas órbitas. Alguns segundos assim, como se olhar fosse igual a tocar, mesmo sem ver.

A mãe chama seu nome e ela veste o shorts rapidamente. Enrola a calcinha em um bolinho que cabe escondido em sua mão e entrega ao garoto. O único toque que se dão. A única vez que se vêem.



No dia seguinte, a mãe estranha o quarto da filha. Todas as bonecas estão fora das caixas. Algumas sem roupas, escabeladas. Outras pintadas com os cabelos cortados. Um horror, logo a filha que é tão cuidadosa com os brinquedos.

Na parada de ônibus uma menina de saia plissada vai para a escola. Não é criança, nem mulher. Mas não é mais uma boneca virgem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Seguir este também... Tem coisa legal aqui!

Hugs